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05/03/2019 Projeto se destina a alunos "invisibilizados", diz coordenador Sarah de Aguiar tinha 13 anos quando começou a se cortar. A automutilação teria seguido se ela não tivesse sido surpreendida pela mãe, Weslayne de Aguiar. Depois de prometer à mãe que não se cortaria mais, Sarah pediu ajuda na escola. Foi assim o início do Projeto Asa, implantado em 2014 no Centro Educacional Gesner Teixeira, escola pública na Cidade Nova DVO, no Gama, a 42 Km do centro de Brasília. "Quando se está nesse mundo, a gente pensa que não tem ninguém ao redor que ame a gente”, disse. “Eu não comia mais, ficava dentro do quarto, sempre com o celular na mão, conversando com essas pessoas em grupos de Facebook e WhatsApp que tratavam do assunto. Achava que elas um dia podiam me ajudar", relatou. Foi assim até a mãe a surpreender. Sarah procurou, então, a orientadora educacional da escola, Raquel Guimarães. Mostrou à orientadora que o seu caso não era isolado: outros estudantes também se cortavam, inclusive dentro do colégio. "Depois que minha mãe descobriu, eu não fiz mais, porque eu prometi para ela que não ia mais fazer”, afirmou. A estudante passou a colaborar com o projeto. “Entrei para o projeto e falei para a Raquel que queria ajudar. Trouxe várias meninas que eu conhecia e incentivei a parar." Terapia de roda A orientadora educacional envolveu a rede de saúde, preocupada porque as meninas, muitas vezes, compartilhavam as lâminas, aumentando o risco de contraírem doenças. Raquel também procurou a Polícia Civil. A apuração revelou que os grupos online dos quais as meninas participavam tinham maiores de idade que se passavam por menores e as incentivavam a se cortar e a compartilhar as fotos. A iniciativa deu tão certo que, em 2018, as práticas integrativas em saúde entraram no projeto político-pedagógico da escola. Hoje, em parceria com a Secretaria de Saúde, a escola oferece também meditação, reiki e automassagem. Em 2017, o Centro Educacional recebeu o Prêmio Escola de Atitude, promovido pela Controladoria-Geral do Distrito Federal. Saúde e aprendizagem “Eu não era muito de conversar com as pessoas. Eu era muito tímida. Agora, eu sou bem aberta”, afirmou Rebeca, que também superou problemas com a própria aparência. “Hoje em dia, eu me vejo maravilhosa, eu sou linda”. A escola pública fica em um local onde há registros de tráfico de drogas e violência e onde isso impacta o cotidiano dos alunos e das famílias. “Eu tento mostrar que eles podem mudar a realidade deles e que somente eles podem fazer isso”, diz a orientadora educacional da escola. Esse tipo de cuidado e atenção melhorou também o desempenho dos estudantes. “O foco da escola é aprendizagem. O projeto mexeu com a aprendizagem. Incluiu alunos que antes eram invisibilizados”, disse o assessor técnico de inovação e projetos da Coordenação Regional de Ensino do Gama, Cleison Leite. Até o ano passado, ele trabalhava na escola e fez parte da construção do projeto político-pedagógico. “Aspectos emocionais estavam interferindo também nas relações. Alguns conflitos que existiam na escola passaram a ser mediados. As rodas de terapia, colocaram em foco problemas de relacionamento. Além da automutilação, as rodas ajudaram nas questões interpessoais”, afirmou. Abandono familiar “Todos os casos estavam ligados à depressão. Pelo que eu constatei, a automutilação era consequência da depressão e esse quadro era gerado por abandono familiar, por casos de abuso sexual”, disse. No último dia 27, a escola abriu as portas para profissionais da saúde, para educadores e para quem quisesse conhecer a experiência. A analista técnica de políticas sociais do Ministério da Saúde, Marina Rios, estava presente. “A gente veio conhecer, acompanhar, conhecer a iniciativa para poder replicar em outros contextos”, disse a analista, que integra o Comitê Nacional de Prevenção ao Suicídio. Casos de depressão A depressão pode levar a um grande sofrimento e disfunção no trabalho, na escola ou no meio familiar e pode levar ao suicídio. Segundo a OMS, cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano em todo o mundo. Trata-se da segunda principal causa de morte entre pessoas com idade entre 15 e 29 anos. “Os jovens estão todos na escola. Às vezes, a gente tem dificuldade de chegar a eles pelo serviço de saúde. A escola tem acesso a todos os casos e pode, inclusive notificar o sistema de saúde, quando necessário. Pode notificar casos de violência e de tentativa de suicídio”, disse Marina Rios. Sarah é prova da importância da escola. “Na época, ninguém falava disso. A depressão era uma coisa que ninguém levava a sério. A escola foi o lugar que mais me abriu fronteiras. Ninguém imagina esse como um papel da escola, mas foi maravilhoso”, disse. Hoje, com 17 anos e já com o ensino médio concluído, ela ainda participa do projeto, ajudando a divulgar a iniciativa e a mostrar aos estudantes que outras pessoas passam pelo que estão enfrentando. A estudante conta que não se sente mais só como chegou a se sentir. Foto: marcello Original: http://www.brasiliaweb.com.br/integra.asp?id=46563&canal=2&s=1&ss=2 |
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