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Casos de câncer na família não significam hereditariedade da doença
31/05/2019

Em entrevista, oncologista do Hospital do Câncer Anchieta, explica os principais fatores de risco, como o acompanhamento médico deve ser feito e quais avaliações preventivas podem ser realizadas.

O câncer é uma das doenças que mais causa medo nas pessoas e quando alguém na família é diagnosticado com a patologia, um alerta passa a piscar entre os familiares. Mas nem todo câncer é hereditário e apenas 10% tem relação com fator genético, como acontece quando há alterações ou mutações em uma cópia do gene de controle protetor contra o desenvolvimento de um tumor. 

Diversas questões estão relacionadas ao surgimento da doença, um terço dos casos, por exemplo, é atribuído ao comportamento e alimentação, como alto índice de massa corporal, baixo consumo de frutas e vegetais, falta de atividade física e uso de álcool e tabaco. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 70% das mortes causadas por câncer ocorreram em países de baixa e média renda, sendo responsável por 9,6 milhões de óbitos em 2018.

Porém, com diagnóstico correto e um tratamento adequado é possível vencer a doença e levar uma vida normal. Alguns tipos mais comuns de câncer, como o de mama, colo do útero, oral e colorretal, têm altas taxas de cura quando detectados precocemente e tratados de acordo com as melhores práticas. É o que explica, em entrevista, o oncologista do Hospital do Câncer Anchieta, Dr. Marcos França.

- O câncer é hereditário? Por quê?

O câncer pode ser esporádico ou hereditário, este último ocorre quando há uma herança genética familiar que predisponha o desenvolvimento de lesões tumorais. A maior parte dos tumores é esporádica e estima-se que cerca de 10% dos tumores originários sejam de forma hereditária. 

- Quais tipos de câncer podem ser hereditários?

Há diversas alterações genéticas ou síndromes que podem ocasionar o surgimento de lesões tumorais, entre as mais comuns, está a mutação no gene BRCA1 e BRCA2 que aumentam a chance de desenvolvimento de câncer de mama, ovário, próstata e pâncreas. Outras variações conhecidas são as relacionadas aos tumores de intestino, como a Polipose Adenomatosa Familiar ou a Síndrome de Lynch, que também têm ligação com o surgimento da doença no endométrio e em outros órgãos. Há ainda mutações ligadas ao câncer de rim, como a Síndrome de Von Hippel Lindau. Já os tumores endócrinos têm relação com uma síndrome conhecida como Neoplasia Endócrina Múltipla que aumenta o risco de câncer na tireoide, pâncreas, glândula adrenal ou na pele. Ou seja, tumores dos mais variados órgãos podem possuir uma correlação com hereditariedade.

- Como as pessoas que têm casos de câncer na família devem se prevenir?

É importante mencionar que ter caso de câncer na família não significa que existe hereditariedade de tumores, há critérios para se estabelecer quando existe o risco de transmissão hereditária de tumores. Parentes de primeiro grau, portadores de câncer, o paciente deve procurar um oncologista para uma avaliação inicial quanto ao risco da presença de câncer hereditário ou não. Após avaliação, pode ser necessária a realização de testes genéticos específicos, bem como a análise de um geneticista para o risco de câncer de origem hereditária. No caso de haver possibilidade hereditária, existem procedimentos específicos de rastreamento com estratégias para redução do risco de desenvolvimento de tumores. 

- O que é o câncer esporádico?

São aqueles em que não há correlação com herança genética herdada da família. São os tipos mais comuns, compreendendo cerca de 90% dos casos de diagnóstico dos tumores.

- O que pode causar câncer, além da hereditariedade?

Alguns hábitos de vida podem aumentar o risco de desenvolvimento de tumores, como tabagismo, sedentarismo, etilismo, obesidade, exposição solar exacerbada e inadvertida. Algumas infecções virais também elevam este risco, como a infecção pelo vírus HPV e Esptein Barr, por exemplo. Outras exposições também podem aumentar a chance de desenvolvimento de tumores, como exposição à radiação, agrotóxicos, benzeno, dentre outras origens.

- Quem tem casos de câncer na família deve fazer check-up? Com que frequência?

Deve ser avaliado por um médico para verificar se existe risco de hereditariedade, bem como para melhor entendimento se há possibilidade de desenvolvimento de algum tipo especifico de tumor. A frequência é muito individual, pois irá variar de acordo com cada caso, mas deve ser realizada, pelo menos, uma vez ao ano.

- A atriz Angelina Jolie passou por uma cirurgia preventiva de câncer de mama após os médicos os médicos estimaram em 87% o risco de ela desenvolver a doença. Quando esse tipo de procedimento é recomendado? É possível se antecipar?

No caso em questão, percebeu-se que a atriz era portadora de um gene conhecido como BRCA, que, a depender do tipo de mutação presente, pode aumentar em até 90% de chance do risco de desenvolvimento de câncer de mama ao longo da vida. Para os portadores desta alteração, sugere-se a realização do procedimento de retirada preventiva das mamas, o que reduz em 95% as chances de desenvolvimento da doença. Vale ressaltar que esta mutação, em específico, também eleva a possibilidade de câncer de ovário e, assim como foi o caso da Angelina Jolie, possuem indicação da remoção preventiva dos ovários. 

 

Um terço dos casos de câncer é atribuído ao comportamento e alimentação e apenas 10% tem relação com fator genético. Foto: Divulgação

Original: http://www.brasiliaweb.com.br/integra.asp?id=46940&canal=2&s=96&ss=0