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14/09/2019 O pesquisador é chefe do Setor de Direito Político e coordenador do Centro de Proteção a Refugiados e Imigrantes (Cepri) da Fundação Casa de Rui Barbosa. A Cátedra Sergio Vieira de Mello, da Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), apresentou relatório em seu 10º Seminário Nacional, em que aponta para a necessidade de implementação de políticas públicas específicas que amparem os cerca de 11,2 mil refugiados atualmente no Brasil e atendam às suas demandas e dificuldades. “Dificuldades que eles [refugiados] têm em termos de revalidação do diploma, de cursar escola pública quando estão em situação de refúgio no país, dificuldade de acessar, na verdade, os seus direitos, desinformação em relação à possibilidade de naturalização”, disse à Agência Brasil o coordenador no Rio de Janeiro do relatório O Perfil Socioeconômico dos Refugiados no Brasil, Charles Gomes. O pesquisador é chefe do Setor de Direito Político e coordenador do Centro de Proteção a Refugiados e Imigrantes (Cepri) da Fundação Casa de Rui Barbosa. Ele disse que há desconhecimento por parte dos refugiados que estão no Brasil há mais de cinco anos que podem se naturalizar. “Muitas pessoas que a gente entrevistou tinham direito de se tornarem cidadãos brasileiros, mas não sabiam. Então, é falta de informação, de políticas direcionadas a essas pessoas”. Muitos refugiados, segundo o pesquisador, relataram ter sofrido discriminação pelo fato de serem estrangeiros, e os africanos têm a sensação de sofrerem racismo no Brasil, porque viviam em um país de maioria negra. “O que você percebe é que a maioria conta com ajuda de entes próximos, de outros imigrantes, porque pouco foi feito em relação ao Estado e à participação do Estado em ajudá-los no emprego, normalmente. Em muitas coisas, você vê que o Estado ficou ausente no auxílio a essa população”, disse Charles Gomes. Origem Dos 487 entrevistados, 153 vieram da Síria e 116 do Congo. Angola, com 42, e Colômbia com 36, representam 16,01% da amostra. O transporte aéreo foi o meio mais empregado para chegar ao Brasil, abrangendo 93,84% das respostas. A maioria, 83,16%, chegou ao Brasil após 2010 e o país concedeu refúgio a 389 pessoas. Em relação ao gênero, excluindo os que não quiseram dar informações, 66,9% declararam-se homens e 31,6%, mulheres. O relatório O Perfil Socioeconômico dos Refugiados no Brasil mostra que 88,26% dos refugiados têm entre 18 e 49 anos, ou seja, estão na idade considerada economicamente ativa, e 11,73% têm mais de 50 anos. Sobre raça ou cor, dos 463 que responderam à pergunta formulada, 46% se disseram negros; 40,17%, brancos; 12,74%, pardos; 0,65%, indígenas; e 0,43%, amarelos. Informaram ser casados ou em união consensual 46,61% (227 pessoas), enquanto 49,08% (239) são solteiros. Do total de entrevistados, 59% disseram ter vindo para o Brasil com suas famílias e 93% informaram professar alguma religião, sendo as principais a islâmica (39,96%) e a evangélica (27,46%). Ensino Sobre moradia, 78,44% declararam viver em unidades residenciais particulares, enquanto 21,56% moram em domicílios coletivos, o que revela precariedade da vida cotidiana e vulnerabilidade. Cerca de 90,58% moram de aluguel e menos de 2% em moradias cedidas. Os que vivem em casas com até quatro pessoas somam 76,1% e 23,88%, com cinco ou mais pessoas. Dos 395 refugiados que informaram a renda, 79,5% ganham abaixo de R$ 3 mil por mês e 24% têm renda inferior a R$ 1 mil. Só 20,5% ganham acima de R$ 3 mil. A renda domiciliar per capita é inferior a um salário mínimo. De acordo com a pesquisa, os gastos com saúde, educação e lazer são compatíveis com a baixa renda e se situam abaixo de R$ 100 por mês. Do universo de 468 refugiados que responderam à questão, 67% afirmaram que a renda não é suficiente para cobrir os gastos domésticos. O percentual de refugiados com conta bancária é elevado, 79,7% do total ou 388 casos, e 95,5% vivem em ruas com serviços públicos básicos. Em relação a trabalho, 57,5% afirmaram estar trabalhando, 19,5% estão à procura de trabalho, 31,07% trabalham por conta própria e 79,3% têm disposição de empreender. Integração O relatório revela um baixo nível de integração e de associativismo de refugiados no Brasil. Já as perspectivas futuras são positivas. Segundo as respostas obtidas, os processos integrativos se limitam ao trabalho e à rede mais próxima, o que pode ser observado principalmente em regiões de fronteira, como a cidade de Foz do Iguaçu (PR). A grande maioria, 71,49% de 477 entrevistados, não participa de nenhuma associação. Por outro lado, 91% dos 487 entrevistados disseram ter amigos brasileiros. De 467 informantes, 57,3% realizam atividades de lazer em espaços públicos. De 474 entrevistados, 80,6% manifestaram desejo de votar nas eleições brasileiras e a grande maioria (93,3%) externou interesse em obter a nacionalidade brasileira. Dos 456 refugiados que responderam à questão sobre a cultura brasileira, 53,6% relataram total desconhecimento. No tópico relativo à discriminação, 41% (200) afirmaram ter sofrido alguma discriminação. Dentre esses, 73,5% foram discriminados por serem estrangeiros e 52% por serem negros. Segundo os refugiados, os principais agentes da discriminação são pessoas comuns, isto é, cidadãos brasileiros. Sobre as perspectivas futuras, 77,85% admitiram tornar a fazer a solicitação de refúgio, permanecer no Brasil e trazer as famílias. Já 84,23% desejam permanecer definitivamente no Brasil. Cátedra O seminário reúne pesquisadores brasileiros e internacionais para discutir temas relacionados à migração forçada na América Latina e se estenderá até a próxima sexta-feira (13), na PUC-Rio. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil Original: http://www.brasiliaweb.com.br/integra.asp?id=47122&canal=2&s=2&ss=0 |
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