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Alexandre Ribondi é homenageado na Câmara dos Deputados por contribuição ao teatro brasiliense

19/04/2022

Diretor tem, em seu repertório, peças que se passam justamente no Congresso Nacional e que satirizam o ambiente político.

Desde 1968, quando chegou a Brasília aos 15 para 16 anos, Alexandre Ribondi emociona, faz leituras, milita e cria nos palcos da cidade. Das primeiras experiências, com Laís Aderne no Teatro Galpão (hoje parte do Espaço Cultural Renato Russo), ao atual momento, em que empreende estando à frente da Casa dos Quatro, são mais de 50 anos. Ele e todo o seu legado serão celebrados nesta quarta-feira, 20 de abril, na sessão solene da Câmara dos Deputados que celebrará os 62 anos da capital federal.

A iniciativa da solenidade foi do deputado Luis Miranda (Republicanos), um dos principais nomes a denunciar o escândalo de corrupção envolvendo a compra superfaturada de vacinas à CPI da Covid-19, no ano passado. Já o convite veio de uma deputada, mulher, progressista, ativista (como Ribondi) da causa LGBTQIAP+, a Erika Kokay (PT).

"Foi aqui, nessa cidade onde cheguei nos anos 60, que me tornei o militante pelo direito à diversidade, que me tornei o jornalista e a pessoa de teatro. Foi aqui que me tornei a pessoa que sou. Brasília está nos meus ossos", diz Ribondi - que, além dos palcos, esteve nas redações de diversos veículos da capital em diversas funções, e também foi fundador do primeiro grupo organizado de militância gay do país, o Beijo Livre. Aliás, você sabia que foi por causa de um beijaço no Beirute que o local se transformou em ambiente amigável à população LGBT, após um casal ser expulso por demonstrar afeto? Este episódio, após 40 anos, foi marcado pelo hasteamento da bandeira da diversidade no bar, com Ribondi e o dono do local.

O cineasta cearense Jefferson Albuquerque, ao saber da homenagem, assim definiu: "Ribondi ama Brasília, se dedica a Brasília, seu pensamento é em Brasília, não saiu de Brasília para tomar outros rumos, fez de Brasília a sua vida, então nada mais merecido". Na verdade, o diretor até esteve por algumas vezes em outras paragens: viveu em Lima (Peru) e em Portugal, mas sempre voltou para a capital. São seus ossos, apesar de nascido em Mimoso do Sul (ES).

Poesia e política

"Alexandre Ribondi representa a Brasília inquieta. A Brasília que, todos os dias, homenageia todas as pessoas de todos os cantos desse país que transformaram o barro vermelho na capital da República", diz Erika Kokay. "É um ato de criação e se identifica com o sentido de uma Brasília que seja uma Brasília poética e que dialogue com todas as formas de vida. Ribondi representa o que Brasília tem de inquieto, de irreverente, de criativo... De metamorfose", completa a parlamentar.

E a poesia lembrada pela deputada ao se referir a Ribondi encontra sincronia com o que ele escreve... "Não sei se me admiro ou se me descabelo por ser morador apaixonado de um deserto - belo, mas único, que, em vendo água, aceita suas enxurradas, mananciais, trombas, precipitações e tormentas e deságua, com formas vivas e barrentas, no que eram terras vermelhas, secas, rachadas e lentas. Não sei se me amo ou me condenas por viver no árido mundo do urubu pálido, que, com asas amenas, sobrevoa o chuvoso deserto. O único que, de perto, é verde. Mulher magra que dá leite? Freira com anáguas? Colchão sem cama em que se deite? Bundas virgens que se aproveite? Distância que já perdeu as mágoas? Cidade, eu te amo. Tão verde e tão vermelha, eu, o que se ajoelha, e que, já verde, vermelho e velho, te ama mais e mais. Vivo em paz". Esta é a poesia "Ode com Ódio", escrita por Ribondi para a cidade. Há quem discorde?

Já que houve citação à bunda no poema, inevitável lembrar que quem muito abaixa, a mostra. E que Ribondi nunca precisou mostrá-la, já que receberá a condecoração no mesmo local que, há poucos meses, serviu de inspiração e cenário para a peça WC - A Paisagem Vista da Latrina, em que narra o conflito entre um trabalhador e um deputado e uma mala com muito dinheiro - é também onde discute meritocracia e a tragédia dos tempos atuais, de completa corrosão no debate público.

Serviço

A entrega da Medalha de Honra ao Mérito pelos serviços prestados ao Distrito Federal será nesta quarta-feira (22), às 15 horas, no Plenário Ulysses Guimarães da Câmara dos Deputados. A solenidade terá transmissão ao vivo pela TV Câmara.

Fonte: Morillo Carvalho

Original: http://www.brasiliaweb.com.br/integra.asp?id=49385&canal=2&s=1&ss=2