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10/03/2025 Longa brasileiro ganhou 38 prêmios e teve impacto na memória do país. Repercussões nacionais e internacionais de diferentes características. Públicos emocionados e curiosos sobre o que foi a ditadura militar no Brasil (1964 - 1985). Cinema brasileiro reconhecido ao tratar do impacto do autoritarismo (que ainda hoje ameaça democracias)... São variados os motivos que fazem o filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, já chegar vencedor ao Oscar, neste domingo (2), avaliam estudiosos. Mesmo se não vierem estatuetas. Inspirada em livro de 2015 com escrita biográfica de mesmo título, de autoria do escritor Marcelo Rubens Paiva, a obra foi lançada em 2024 e levou mais de cinco milhões de pessoas ao cinema. Em caso de vitória neste domingo, será a primeira estatueta para o Brasil. Em 1960, porém, o longa brasileiro Orfeu Negro venceu na categoria de melhor filme estrangeiro, mas o filme representava a França (do diretor Marcel Camus). Marcelo Rubens Paiva é um dos cinco filhos da advogada e ativista Eunice Paiva (1929 - 2018).e do ex-deputado Rubens Paiva (1929 - 1971), que teve o mandato cassado e depois foi perseguido, raptado, torturado e morto por agentes da ditadura (da Aeronáutica e do Exército). Até agora, o longa recebeu 38 prêmios nacionais e internacionais, entre eles, o Prêmio Goya e o Globo de Ouro de Melhor Atriz. No Oscar, foi indicado em três categorias melhor filme, melhor atriz, para Fernando Torres, e melhor filme internacional. Presente De acordo com o professor Arthur Autran, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e que lidera grupo de pesquisa sobre cinema e audiovisual na América Latina, a repercussão é “enorme” em diversos níveis, independentemente se o longa receber algum Oscar neste domingo. Há o que o pesquisador chama de uma “repercussão social”. “O filme se tornou, de fato, uma espécie de evento. Muitas pessoas se interessaram pelo cinema brasileiro”, explica. Para ele, isso evidentemente cria um clima bastante positivo e, mesmo sem utilizar diretamente de recursos públicos, é uma expressão da política pública brasileira para o audiovisual. Outra vitória do filme para o país citada pelo professor é a valorização da memória nacional. “(O assassinato de Rubens Paiva) Foi um crime praticado pela ditadura militar brasileira. O filme é trazido de uma forma muito emocionante e candente. Houve muita competência em recontar essa tragédia brasileira e trazer isso de uma forma narrativamente muito poderosa”, diz Autran. O filme, em si mesmo, segundo analisa o especialista, ao trazer uma narrativa poderosa, coloca luz sobre o cinema brasileiro. “Nós temos voz” “Nós temos conseguido erguer a nossa voz. É uma voz falada em português, de um país periférico como o Brasil. Uma voz que tem sido ouvida”, explica a pesquisadora. O alcance do filme, de acordo com o que Dirce Waltrick entende, tem trazido repercussão às produções brasileiras na arte. “Esse filme é importantíssimo em razão dessa temática e tem muitas chances de vencer no Oscar. De toda forma, eu acho um filme fundamental, uma virada de chave para a nossa cultura”. Para a professora, a função da obra de arte é de fato mexer e perturbar. “As pessoas se sentem instigadas a ir atrás e a saber mais sobre quem foi Eunice Paiva, que lutou pelo direito dos indígenas (o que é menos abordado no filme)”. De olho no presente Em um cenário de expansão de correntes autoritárias pelo mundo, como ele avalia a ascensão do extremismo em países de diferentes continentes, o longa apresenta-se como uma linguagem universal e que pode ser compreendida além do cenário do passado brasileiro. Segundo considera Pestana, esse avanço político foi conquistado por uma disputa ideológica ferrenha, inclusive com uma ideia reverberada e falsa de que haveria tranquilidade no Brasil e que tinham problemas com a polícia e com a justiça quem estava fazendo algo de errado. “Isso é parte da construção ideológica de valorização desse período”, explica. O professor entende que o filme mostra que aquele período não era exatamente uma era de ouro para o Brasil. “Evidentemente dialoga (e contesta) com esse imaginário que a extrema-direita tenta fomentar”. Direitos Sobre o direito da família, a advogada Ariadne Maranhão reconhece que o filme traz visibilidade ao tema da morte presumida. “O reconhecimento antecipado da morte foi um avanço que garantiu não apenas segurança jurídica, mas um alívio necessário para que essas famílias seguissem com suas vidas dentro do ordenamento", explica. Ela entende que a repercussão do filme Ainda Estou Aqui, no âmbito do direito de famílias e sucessões, é relevante, já que evidenciou como o contexto histórico impactou diretamente as estruturas familiares e a autonomia das mulheres. “Como sabemos, por séculos, as mulheres foram silenciadas e relegadas ao papel de zeladoras da família, sem voz, para participar das decisões que moldavam suas próprias vidas”. Para a especialista, o filme retrata essa realidade sob a ótica de Eunice Paiva. “A arte desempenha um papel fundamental para alertar a sociedade sobre os seus direitos”. “Fura a bolha” “Furou a bolha. Em alguma medida, isso tem relação com a estratégia narrativa de politizar pelo viés do cotidiano, da vida familiar”. No entender do professor Arthur Autran, da UFSCar, a esse respeito, houve um esforço do filme de tentar falar para um público o mais amplo possível dentro do Brasil e fora do Brasil também. Ainda que, conforme os especialistas, com limitações a “quem não quer ouvir”. Ele lembrou que Marcelo Rubens Paiva, que é cadeirante, foi atacado quando estava em um bloco de carnaval. Justiça Marco Pestana avalia que a decisão tem relação com o filme e a conjuntura. “O STF soube ler (o momento) e entendeu que era momento para pautar isso". Edição: Aline Leal Foto: © Alile Dara Onawale/Sony Picutres Original: http://www.brasiliaweb.com.br/integra.asp?id=51433&canal=2&s=2&ss=0 |
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